“Não era fácil / fazer o amor / entre tantas metralhadoras / panfletos, bombas / apreensões fatais / e os cinzeiros abarrotados / eternamente com o teu Continental, / preferência nacional”, escreve Alex Polari em “Amar em aparelhos”, poema de Inventário de cicatrizes (1978). Encerrando a quarta estrofe do mesmo poema, o poeta acrescenta: “era duro rimar orgasmo / com guerrilha / e esperar um tiro / na próxima esquina”, versos que dão título a este volume da coleção Crítica Contemporânea, pela editora Alameda. Se não acreditamos que um breve excerto possa expressar com precisão a síntese de uma poética, podemos ao menos afirmar que aqueles citados logo acima remetem a significativas linhas de força da obra do então jovem militante da Vanguarda Popular Revolucionária durante o período mais cruel dos Anos de Chumbo. Preso aos 20 anos, em 1971, liberto aos 29, Polari testemunhou a repressão, a censura, a clandestinidade, o sequestro, a tortura, a ameaça, a violência física e a psíquica,