Este livro é um exemplo do quanto uma formação e um olhar transdisciplinar, somados a uma pesquisa histórico-documental rigorosa, produz bons frutos ao campo das Humanidades. Com escrita clara, “Sífilis, loucura e civilização” traz contribuições robustas para a história das ciências, da medicina e dos saberes psicopatológicos no Brasil. Se este livro tratasse apenas da história de um diagnóstico fundamental para a psicopatologia do século XIX, a paralisia geral progressiva, e suas articulações com a formação de um campo de saber científico, a psiquiatria, ele já seria uma contribuição historiográfica profícua. Afinal, o percurso histórico da doença é revelador dos padrões de objetividade que ramos descritivos desse saber perseguem até hoje. Mas, Giulia faz mais: mostra como a PGP e a sífilis (sua causa), para além de filão central da legitimação de uma psiquiatria carioca de cariz cada vez mais neurológico, figuram no quadro dos debates nacionais sobre civilização, degeneração, raça e